segunda-feira, janeiro 09, 2012

As Palavras Que Nunca Te Direi (Porque Levei Pontos Na Boca E Custa-me Mexer O Maxilar)

Humphrey Bogart e Ingrid Bergman. Leonardo Di Caprio e Kate Winslet. Paulinho Santos e João Pinto. Javi Garcia e 95% dos outros jogadores do campeonato. Já todos presenciámos célebres casais apaixonados nos ecrãs, trocando mimos e carícias várias até uma teimosa lagrimazita forçar o seu caminho pela face abaixo do empedernido espectador. Poses emblemáticas. Frases que se gravam no coração, apertando-o com um estranho ardor. Olhares que nos fulminam, despertando em nós formigueiros incontroláveis que varrem a nossa estrutura óssea de ponta a ponta. E depois, aquele último beijo com o som dos violinos chiando ao fundo, torneando a brisa que sopra delicada ao pôr-do-sol, fazendo soltar suspiros em toda a assistência (no caso do Paulinho Santos e do Javi Garcia, substitua-se “beijo”, “violinos” e “suspiros” por “cotovelada”, “claques” e “gritos de dor”, respectivamente). É um espectáculo.

Mas… e os duros? O Chuck Norris, o Steven Seagal e o Fernando Aguiar não amam? Amam, pois. Já provámos isso e eis mais uma prova: Eliseu e Sá Pinto ensemble, Primavera de 1995, a bela Primavera dos amores perfeitos, nesse recinto atacado pelas setas de Cupido denominado Estádio Mário Duarte, sito na romântica Veneza portuguesa:

Ponto 1: ninguém terá dúvidas que, fora dos estúdios de Hollywood, Chuck Norris e Steven Seagal parecem a turma do Noddy quando comparados com a rudeza crua destes dois sanguinários do futebol indígena. Eliseu e Sá Pinto foram dois dos mais inspirados autores do Manual do Bom Rufia do Futebol Português, Manual esse iniciado sabe-se lá por quem e sucessivamente aditado de várias contribuições… até que um dia, Binya, ao seu estilo, chegou e rasgou os tendões de Aquiles deste Manual, fazendo tábua rasa de tudo o que já tinha sido escrito e construindo uma nova base para a boa cacetada. “Binya é um senhor”, parece ter confessado Javi Garcia em sinal de gratidão por tão valiosos ensinamentos, mas afinal ninguém viu, ninguém ouviu, ele não disse, não havia câmaras, ele não estava lá, foi alguém que disse por ele nas suas costas, etc. e tal… e foi-se a ver, o Javi Garcia não fez nada e estava só a rezar ao Menino Jesus. O costume.

Ponto 2: Nicholas Sparks não o admitirá, mas muita da sua obra literária sorveu inspiração deste instantâneo. Verdadeiramente enternecedor. A cara prenhe de paixão de Eliseu, de cabelos fulvos e dentes cerrados, esticando o seu braço tenso de tanto amor ao encontro de outro loucamente apaixonado, essa Florbela Espanca do futebol português no seu sentido literal que era (é?) Sá Pinto, que fecha os olhos para melhor saborear o prazer doido que lhe afaga a face e invade as veias, fazendo-as pulsar por mais actos de amor desaustinado. Uma conjugação felicíssima, até nos patrocinadores – ambos lacticínios, um é queijo, outro é leite, dois produtos que se calhar até provieram da mesma vaca, da mesma teta, da mesma ervinha que ela ruminou, ervinha essa que pode ter sido a do Mário Duarte. Ou um círculo fechado em si mesmo. Uma simbiose natural. O destino juntou Eliseu e Sá Pinto nesta tarde e os seus corações jamais vibrariam com a mesma violência apaixonada a partir daqui.

Coincidências? No amor não há coincidências.

PS: impressionante o plantel do Beira-Mar nesta época, constituído por um verdadeiro poker de ases de paus: para além de Eliseu, Sandokan Dinis, Hugo “Sniper” Costa e O Outro Eusébio, aos quais se juntava o joker Piguita. You can’t beat that.

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